sindicato dos trabalhadores nas indústrias da purificação e distribuição de água e em serviços de esgotos de niterói e região

NÃO É APENAS CULPA DA SECA

A falta de água em São Paulo é emblemática e serve de alerta. Com a queda dos índices pluviométricos, a tendência geral é a escassez de água e, se não houver uma gestão responsável dos recursos hídricos, a situação pela qual passam os paulistas pode se estender por todo o Brasil. Para que as reservas de água doce do Brasil durem o suficiente, é necessário que toda a sociedade se ajude, cada um fazendo sua parte. Se a população deve economizar no consumo de água, as indústrias precisam tratar os dejetos que são despejados nos mananciais – todo o tipo de produtos químicos é descartado de maneira equivocada em rios e lagos não só do Rio de Janeiro como de todo o país. O governo, por sua vez, deve tratar as políticas de saneamento público como prioritárias e dar mais atenção às sugestões de especialistas e entidades do setor.

Devido ao Brasil deter 11% das reservas de água doce do mundo, temos a sensação de que a água por aqui é infinita. Em decorrência disso, esbanjamos à vontade, lavando carros com mangueira, deixando a torneira enquanto lavamos louça ou escovamos os dentes e tomando longos e demorados banhos.

Por falta de fiscalização e consciência, indústrias se despreocupam com a qualidade das águas dos rios que as cercam e despejam produtos químicos e esgoto sem qualquer tipo de tratamento. Em matéria publicada pelo jornal O GLOBO no dia 11 de novembro (terça-feira), um morador de Barra Mansa lembrou o desastre provocado pelo derramamento, há seis anos, de 7,9 mil litros do produto químico endolsufan, da indústria Servatis, em Resende, na Bacia do Paraíba do Sul, causando mortandade de peixes, jacarés e capivaras (leia a matéria aqui).

Em outra matéria do mesmo jornal, publicada no dia anterior, um alerta sobre o desperdício de água no Sistema Guandu. Por contaminação de detritos vindos da Baixada Fluminense através de seus afluentes, o reservatório Santa Cecília, o principal do sistema, só tem 51,7% dos 110 m³ captados pela CEDAE e distribuídos. O restante se perde devido a essa contaminação por esgoto (leia a matéria aqui). Enquanto o risco de racionamento é descartado pelo presidente da CEDAE e pelo secretário de Ambiente, as áreas rurais do Rio de Janeiro já sofrem os efeitos da seca, com perda de gado e plantações. Pessoas que precisam da água para o próprio sustento, agora tem seu acesso negado. É culpa de São Pedro?

Símbolo da poluição hídrica, o Rio Tietê foi palco de uma cena tragicômica em 2011, durante uma competição promovida pelos organizadores do São Paulo Boat Show entre uma lancha e um carro. Enquanto a lancha deveria percorrer o rio, o carro a acompanharia durante o horário de pico na Marginal Tietê, tradicional ponto de engarrafamento da capital paulista. O carro contou com a ajuda do grande volume de lixo acumulado no rio, que ocasionou uma pane nos motores da lancha e fez com que esta fosse rebocada antes de completar metade do percurso de 24 km (leia a matéria aqui). Não à toa a cidade passa por uma grave falta d’água que o governo estadual, convenientemente, nega. Choveu muito menos que o esperado nesse período, é verdade, e isso complicou o planejamento de governos e concessionárias. Mas, de qualquer forma, essa seca serve para alertar a todos sobre a importância que o controle do uso e da qualidade da água e do esgoto merece receber de governos, indústria e população. Fossem os recursos hídricos melhor tratados e talvez a seca não tivesse tanto impacto assim na vida dos atingidos. Aos governos, falta mais transparência e vontade política de dar ao saneamento a verdadeira importância que ele merece. A nós, fortalecer nossa consciência. Botar a culpa em São Pedro não adianta.