sindicato dos trabalhadores nas indústrias da purificação e distribuição de água e em serviços de esgotos de niterói e região

O LEGADO DA SECA

Se tem uma coisa que nós, brasileiros, podemos aprender com a seca é o cuidado com os recursos naturais – nesse caso, principalmente os recursos hídricos. Toda crise traz oportunidades para que a humanidade se reinvente. “A necessidade que é a mãe da invenção”, já dizia Platão, isso há mais de dois milênios. Pelo visto, seu pensamento continua atualíssimo, pois foi necessária uma seca sem precedentes se abater sobre o Sudeste (pois a Região Nordeste já sofre desse problema há bastante tempo, sem ter a devida atenção) para que tratamento de água e esgoto, água de reuso e gestão responsável dos recursos hídricos fossem temas amplamente debatidos pela mídia e passassem a fazer parte do dia a dia do brasileiro. Vale destacar que esses assuntos já eram, muito antes, discutidos e enfatizados com frequência por sindicatos, ONGs, institutos e entidades relacionados à gestão dos recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável, sem muito sucesso. Agora, é hora de todos nós reinventarmos o uso da água e de forma a maximizar a duração desse recurso essencial para nossas vidas.

O Rio de Janeiro, apesar de não sofrer o mesmo problema que São Paulo, também sente os efeitos da estiagem, principalmente os municípios agrícolas do estado, cujas perdas na produtividade foram acentuadas durante a falta de chuvas. Os reservatórios do Paraíba do Sul que abastecem o estado caíram aos piores níveis em 36 anos. Segundo especialistas, serão necessários pelo menos três anos de chuvas abundantes para a recuperação do rio. Nesse cenário, a economia de água deixa de ser opção e vira OBRIGAÇÃO não só da população, mas dos setores agrícola, industrial e de serviços também.

Segundo o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, da Agência Nacional de Águas, o agronegócio consome 83% da água disponível no país. Sendo seu peso considerável na economia, pois responde por 23% do PIB, é fundamental que novas formas de produção com a redução do consumo da água sejam desenvolvidas.

Você deve estar se perguntando: porque eu tenho que economizar água enquanto a produção agropecuária gasta mais de 4/5 da água disponível? Volto a dizer: todos temos que fazer nossa parte. Se um esperar a iniciativa do outro, vamos nos afundar em uma crise hídrica inimaginável para uma população acostumada a ouvir que a água é infinita – o que passa essa falsa sensação é o fato de 13% da água doce do planeta está no Brasil. O uso da água deve ser aproveitado o máximo possível, pois ela não é infinita, ao contrário do que nos acostumamos a acreditar. Iniciativas como a utilização da água de reúso para consumo humano são, agora, consideradas a despeito do ceticismo da população, apesar de essa ser uma prática bastante comum em outros países – Israel, por exemplo, reutiliza 75% dos efluentes gerados para irrigação, consumo humano e outras atividades. Aproveitamento de água da chuva também é outra iniciativa que começa a ser endossada no Brasil, assim como a aplicação de multas para aqueles que exageram no consumo e descontos para quem tem o comportamento inverso. Foi necessária a seca para o cuidado com a água deixar de ser uma pauta apenas de sindicatos, ONGs e institutos e se popularizar, fazendo a sociedade se conscientizar e cobrar ações do governo, orientar as pessoas próximas e se esforçar para inventar novos métodos para seu melhor aproveitamento. Como já dizia Platão, há mais de dois mil anos.