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A SECA REVELA A AUSÊNCIA DE PLANEJAMENTO PARA O SANEAMENTO

Esse período de seca tem revelado o quão crítica se encontra a situação dos serviços de distribuição de água e coleta de esgoto por todo o Brasil. Como escreveu em recente artigo a sanitarista Ligia Bahia, professora da UFRJ, “o PAC teve o mérito de tirar o saneamento do limbo, mas a execução das atividades previstas esbarra na dispersão das competências e pulverização dos recursos”. Em outras palavras, é necessário um direcionamento melhor para que as obras consigam sair do papel e melhorar a vida da população. Não à toa, levantamento do Instituto Trata Brasil referente a 2013 aponta que mais da metade das obras do PAC está incompleta ou não-iniciada.

A região metropolitana do Rio de Janeiro, apesar de não estar sofrendo reflexos da seca, precisa ficar atenta, pois o risco de racionamento existe. O norte do estado tem sofrido bastante, o que sinaliza que o Rio de Janeiro não está imune a este problema. Se considerarmos a situação de nossos mananciais, então, não faltam motivos para nos preocuparmos. Em uma série de reportagens veiculadas no início do mês, o jornal O GLOBO denunciou o alto percentual de perdas de água do Sistema Guandu devido à poluição – 48,3% da água captada – e os 600 milhões de litros de esgoto despejados diariamente na bacia do Paraíba do Sul – estimativa realizada por engenheiros da Coppe/UFRJ. Sem sombra de dúvida, a quantidade de água desperdiçada deixaria o estado em situação mais confortável.

Além do Rio de Janeiro, a poluição dos mananciais pode ser vista com facilidade nas grandes cidades do Brasil. Enquanto agoniza com a falta de água e chuvas, São Paulo tem os rios Pinheiros e Tietê absurdamente poluídos. No dia 27, o rio apresentava coloração preta em Salto, interior do estado de São Paulo, o que causou mortandade de peixes. No entanto, quem pensa que toda essa poluição vem exclusiva de áreas mais afastadas, sem obras de infraestrutura adequadas, está enganado. Bairros chiques da capital paulista, como o Morumbi, despejam o esgoto diretamente no rio Tietê sem qualquer tratamento.

No entanto, uma cidade do interior paulista passa tranqüila pela seca. Jundiaí tem sua principal represa com 70% da capacidade e já planeja uma nova ampliação a partir do ano que vem. A situação confortável é fruto de obras planejadas e executadas ao longo do anos, seja nos períodos chuvosos ou não. Obviamente, a cidade de 400 mil habitantes não tem uma economia mais forte que a capital, então o problema não é falta de dinheiro. Como aponta o recém-eleito relator especial da comissão de água potável e saneamento básico da ONU, o professor da UFMG Leo Heller, escassez de água se resolve com planejamento. “As propostas que tenho ouvido não se implementa em menos de um ano, e o que estamos passando este ano poderá se repetir no ano que vem. Não são essas medidas que darão a solução”, afirma o especialista. Já passou da hora de os governos municipais, estaduais e federal darem a devida importância para o setor de saneamento.