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PACTO PELA ÁGUA

A privatização do saneamento é a primeira etapa de um processo que transformará a água (um bem finito e de vital importância para a sobrevivência) em uma commodity , que será usada como mercadoria para a obtenção de lucro pelo cartel da água. Cartel esse que está, aos poucos, tomando o controle para si dos mananciais e reservas hídricas de todo o planeta, através de empresas ou grupos de empresas que funcionam como tentáculos dessas corporações transnacionais. Ao concederem o tratamento e distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto a essas empresas, governantes utilizam o argumento de que elas irão aumentar o padrão de qualidade do serviço e desonerar os cofres públicos, mas na verdade elas só assumem a gestão quando os sistemas já foram construídos pelo governo. Literalmente, só entram no jogo para ligar as torneiras e arrecadar dinheiro.

Para a obtenção desse controle, antes mesmo de se tornarem concessionárias dos serviços de saneamento locais, esses grupos atuam politicamente, “comprando” o apoio de políticos corruptos e corruptíveis, fazendo com que as leis sejam favoráveis aos seus objetivos. Assim conseguem se apropriar do serviço de saneamento, o qual é lucro garantido – afinal, quem consegue viver sem água?

Conscientes da dependência natural de todos pelos serviços de água, principalmente, e esgoto, essas concessionárias privadas elevam as tarifas a preços bastante superiores em relação às tarifas da gestão pública. O estado do Rio de Janeiro, por exemplo, tem a 6ª maior tarifa média do país (R$ 3,33), mas se fosse praticado o preço da CEDAE (R$ 2,62), concessionária pública,  o estado teria a 16ª tarifa mais cara.

Em uma segunda etapa, quando esse “cartel” estiver controlando boa parte da água potável do planeta, quando tiverem dominado toda tecnologia para o reaproveitamento das águas residuais e, também, a técnica da dessalinização, as pessoas que não tiverem condição financeira de pagar pela água – repito, é essencial para a sobrevivência de todos – essa pessoa certamente irá morrer pela falta de água em seu organismo. Vejam que estamos falando de seres humanos, sem contar com os animais, principalmente os domésticos e aqueles que comumente não são usados para alimentação humana. Portanto, o cenário é o pior possível. Só com muita resistência da população, movimentos sindicais e sociais poderá ser evitada essa apropriação de um bem essencial que deve ser garantido universalmente a todas as pessoas do planeta. Um verdadeiro pacto pela água deve ser firmado entre todas as pessoas, formando uma rede de conscientização e combate à apropriação da água. Se um dia toda a água do mundo for privatizada, ela será um recurso mais valioso que o petróleo, pois este pode ser substituído e a água, não. Se o petróleo, utilizado para produzir energia, já foi/é motivo de conflitos em todo o planeta, imaginem se um recurso essencial para a vida atingir o mesmo valor…