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GESTÃO HíDRICA PRECISA MUDAR A NíVEL MUNDIAL

A região Nordeste do Brasil, historicamente, enfrenta longos períodos de seca. Sobre isso, os brasileiros das demais regiões já estão acostumados a ver nos noticiários ano após ano. No entanto, a seca tem solapado com força a principal região do país, o sudeste, desde o ano passado. Seus efeitos, primeiramente sentidos em São Paulo e Minas Gerais, começam a preocupar mais seriamente o Rio de Janeiro em 2015. O povo fluminense, antes acostumado com a farta oferta de água, era um dos símbolos da cultura de desperdício em um país detentor de 12% das reservas de água doce do planeta. Mas, agora, a população do estado precisa abrir seus olhos para o risco real de faltar água no estado,  situação que vai afetando cada vez mais pessoas no planeta.

A falta de água é um fenômeno mundial que já chegou aos países mais pobres, principalmente na África e na Ásia. Os principais motivos são a poluição industrial e doméstica e os desvios ou compras de mananciais nesses países, sempre em nome da atividade econômica, motor do crescimento e modernização mundial.

O problema é que esse modelo de desenvolvimento tem sido predatório por décadas, levando rios inteiros a ficarem completamente poluídos. Na China, 60% de sua água subterrânea se encontra poluída, segundo levantamento encomendado pelo governo local em 2014. O Rio Ganges, o maior da Índia e utilizado pelos  hindus para rituais religiosos, também agoniza com a quantidade de poluentes que suas águas recebem diariamente.  Estima-se que essa poluição mata cerca de 500 mil pessoas anualmente

Na África, grandes corporações mundiais da água tem adquirido mananciais inteiros para comercializarem nos países ricos, enquanto que 400 milhões do 1,1 bilhão de africanos vive sem acesso a água potável. É assustador que um continente rico em recursos naturais tenha parcela tão significativa de sua população sem esse direito básico para a vida.

O Brasil não está imune de casos como os citados acima. As metrópoles tem rios extremamente poluídos – no Rio de Janeiro, 47 dos 55 rios que deságuam na Baía de Guanabara são impróprios para o consumo – e algumas regiões mais afastadas tem as fontes de água controladas por empresas ou proprietários rurais, que a suprimem das pessoas menos favorecidas.

O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos alerta para o aumento progressivo da demanda de água doce no mundo, a qual não acompanha a renovação das fontes naturais e chegará a 55% em 2050. Neste mesmo ano, a agricultura precisará produzir globalmente 60% a mais de alimentos, sendo 100% a mais nos países em desenvolvimento. Ou seja, mais água precisará ser produzida nos próximos anos e isso só será possível com a recuperação dos mananciais existentes através do reflorestamento das matas ciliares e da coleta e tratamento de esgotos, além da destinação adequada dos produtos químicos das indústrias. A exploração dos recursos hídricos é uma triste realidade mundial que precisa ser revertida o quanto antes com ações contundentes dos governos e mobilização da população. O risco de a água acabar é real, pois a demanda não está acompanhando a renovação dos mananciais e, com a degradação ambiental característica do desenvolvimento econômico mundial, a quantidade de água será reduzida cada vez mais rápido. É essencial que as lideranças dos principais países parem com o jogo de empurra-empurra que caracteriza as conferências e acordos mundiais sobre o meio ambiente e encarem o problema de frente, cada um assumindo sua responsabilidade e adotando medidas concretas, como a revisão urgente das políticas mundiais para o uso das águas e a produção industrial. Enquanto isso, nós podemos fazer nossa parte economizando água diariamente e pautando os gestores municipais, estaduais e federal, além das concessionárias de água responsáveis pelo serviço. Do jeito que está, não pode ficar.