Em tempos de Jair Bolsonaro, estagflação e pandemia, os patrões têm se aproveitado da crise para arrochar salários e elevar suas margens de lucro à custa dos trabalhadores. Em setembro, segundo o boletim Salariômetro, dois terços dos reajustes salariais negociados em convenções e acordos coletivos ficaram abaixo da inflação.
O reajuste mediano foi de 8%. Já a inflação acumulada de 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ficou em 10,4%. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (22) pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
De acordo com o boletim, apenas 9,5% das negociações trabalhistas resultaram em aumentos reais (acima da inflação do período). Outras 23,5% tiveram ganhos iguais ao INPC – ou seja, apenas repuseram a inflação.
Mesmo entre os três setores que tiveram reajuste real – Gráficas e editoras, Artefatos de borracha e Organizações Não Governamentais –, o aumento acima da inflação foi de apenas 0,1%. Em contrapartida, trabalhadores de dois setores ligados à Comunicação registraram as perdas mais expressivas: Empresas jornalísticas (-9,2%) e Publicidade e Propaganda (-7,4%).
“A perda salarial durante as negociações se deve a dois fatores: a desocupação (que tira o poder de barganha do trabalhador) e a inflação (que corrói os salários)”, analisa Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo). Para a classe trabalhadora – diz ele –, “é o pior dos mundos”.
Segundo o pesquisador – que coordena o boletim da Fipe–, a inflação elevada neutraliza até reajustes salariais maiores do que o de anos anteriores. Além disso, a “lei da oferta e da demanda” ganha força: quando mais profissionais buscam emprego, piores são as condições oferecidas também aos que já estão trabalhando. Meios tradicionais de resistência, como a greve, se tornam mais difíceis e menos viáveis.
Com informações do G1 e CTB Brasil